Quem foi Frida Khalo: ela era comunista e eu não sabia!
Elara Leite
Antes de virar estampa de camiseta, peça de decoração, muito antes de virar boneca Barbie e de estar entre as figuras femininas mais admiradas do mundo pós-moderno como um símbolo disruptivo, Frida Kahlo viveu sua vida, suas paixões e sua arte rodeada de ideias revolucionárias.
Em vida, foi polêmica com suas obras e, apesar de ser associada ao surrealismo, criticou a escola e sua contribuição. Após sua morte, tornou-se um ícone de popularidade por sua aparência, por seu modo de se vestir e também por suas opiniões.
No ano de 2018, uma exposição de Frida Kahlo foi acusada de promover o comunismo na Hungria. “Vocês não vão acreditar, mas Trotsky emergiu de novo em Budapeste, desta vez da cama de Frida Kahlo”, dizia uma matéria de jornal de direita húngaro. Foi em 2018 na Hungria, mas podia ser em 2021 no Brasil…
Porém, que história de Trotsky com Frida é essa? Pois é agora que você fica sabendo — se não sabia antes — que Frida era comunista e que, entre seus muitos amores, esteve o próprio Leon Trotsky. Voltando mais ainda a fita, não foi Trotsky que apresentou o comunismo a Frida. Ela já era filiada ao Partido Comunista desde os vinte anos, em 1928, e fazia parte da Liga Jovem Comunista desde os 13, ainda adolescente.
O relacionamento com Trotsky durou dois anos, o tempo em que ele e sua esposa estiveram no exílio, no México, hospedados na casa de Frida e de seu então marido Diego Rivera. Nem Trotsky deixou a esposa, nem Frida deixou o marido. Não dessa vez.
Trotsky e Natalia Sedova passaram a se hospedar na casa de Frida e Diego Rivera em 1937. Frida e o revolucionário soviético se aproximaram pela ideologia comunista e por longas discussões políticas sobre o futuro da humanidade. Para ela, esses foram os momentos mais felizes e o período em que pintou mais.
O cenário era de agradáveis reuniões com intelectuais, comida mexicana e conversas sobre arte. Frida tinha menos de 30 anos e Trotsky já era praticamente um sessentão. Enquanto o México saía de sua revolução, a Europa estava à beira da Segunda Guerra e, nesse turbilhão, nasce um amor, longe do tempo e do espaço, sem preconceitos. As vidas pessoas e intimidades se cruzaram e o relacionamento foi vivido com paixão por ambos.
Diego e Trótsky tiveram uma discussão política e isso fez com que ele e sua esposa saíssem da Casa Azul. Um ano depois, em 1940, ele foi assassinado. Frida e sua irmã foram consideradas suspeitas e até presas, mas foram libertadas e inocentadas dois dias depois.
Frida sofrida, mas empoderada
A artista mexicana sofreu dores e intempéries de saúde durante toda a sua vida. Sua dor e sua paixão se transformaram em arte e empoderamento. Ela tinha em seu sangue ser uma revolucionária. Nascida em 1907, ela dizia a todos que sua data de nascimento na verdade era 1910, ano da Revolução Mexicana.
Frida foi uma lutadora e sua obra reflete isso. Suas pinturas e um diário contam seus dramas, alegrias, dores e frustrações, como o fato de não poder ter filhos e os três abortos que sofreu.
Ela tinha vocação artística desde criança. Filha e neta de fotógrafos, aprendeu a retratar com fotos o mundo à sua volta. Seu pai Carl Wilhelm Kahlo era alemão e apreciava a pintura amadora, levando Frida para caminhar e acompanhá-lo em suas sessões ao ar livre para pintar. Ainda criança, com apenas seis anos, Frida teve poliomielite e ficou com sequelas no pé.
Na juventude, ela estudou na Escola Nacional Preparatória de San Ildefonso, na Cidade do México, em 1922, por três anos, onde passou a se interessar por grupos de artes e filosofia. Foi integrante do Los Cachuchas, coletivo socialista.
O destino não foi gentil com ela e, aos 18 anos, sofreu acidente em um bonde, ficou toda engessada e teve que passar por cerca de trinta cirurgias, além de uma longa internação, o que também a deixou fora da escola a partir de então. Para afastar as dores e o sofrimento, Frida começou a pintar.
Seu pai adaptou um cavalete junto à cama e colocou um espelho no teto para possibilitar que ela iniciasse seus famosos autorretratos. Sua primeira obra foi Autorretrato com vestido de veludo, para um namorado que a havia abandonado em sua recuperação.
“Eu não estou doente, eu estou despedaçada, mas me sinto feliz por estar viva enquanto eu puder pintar.” (Frida Kahlo)
Mesmo com a saúde debilitada que a acompanhou pelo resto da vida, tão logo lhe foi possível, começou a ir a reuniões e festas semanais do meio artístico e político, por volta de 1927.
Sua saúde fragilizada foi tema de diversas obras, uma expressão de sua dor, como na pintura A Coluna Partida, de 1944, um autorretrato em que aparece com sua coluna exposta e quebrada, emendada por parafusos.
Seis anos mais tarde, em 1950, houve a necessidade de amputação de uma de suas pernas, o que a deixou em uma cadeira de rodas e a fez mergulhar em uma depressão.
“Para que preciso de pés quando tenho asas para voar?”
Durante toda a sua vida, Frida demonstrou seu ativismo e sua defesa da ideologia comunista. Em 1954, ela pintou a obra “O marxismo dará saúde aos doentes”, que a mostrou sem muletas, apoiada pelos grandes revolucionários da corrente políticoeconômica.
Frida foi casada com o muralista Diego Rivera, mas ambos moravam em casa separadas, unidas por uma ponte. A Casa Azul, menor e mais modesta, era a de Frida. A Casa Vermelha, maior, com arquitetura de influência bauhauss, era de Diego. Eles passaram a morar nessas casas em 1934. As casas tornaram-se Museu Casa Estúdio Diego Rivera e Frida Kahlo.
A relação de Frida com Diego era complicada e foi entrecortada por inúmeros casos dele e da própria artista. Mas o que motivou a separação definitiva foi o caso dele com sua irmã mais nova, Cristina Kahlo, de quem ele teve vários filhos.
O casamento também foi retratado nas suas pinturas. Após uma de suas brigas, Frida cortou as tranças que o marido gostava e pintou um autorretrato de cabelos curtos. Ao seu redor, o cabelo foi mostrado espalhado pela sala.
Sugestões de livros:
O diário de Frida Kahlo: Um autorretrato íntimo, de Frida Kahlo (2012)
Frida e Trótski: A história de uma paixão secreta, Gérard de Cortanze (2018)
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